O projeto da H Magazine vem sendo gestado há um bom tempo. A ideia: uma revista para gays mais velhos, que já passaram da fase deslumbrada da descoberta, já estão estabelecidos na vida e estão dispostos a encarar assuntos mais sérios.
Visualmente, isso se traduz num projeto gráfico sóbrio e consistente: mais importante que trazer uma surpresa a cada dupla seria estabelecer uma base elegante em que o texto pudesse ser apreciado. Outro fator importante era levar em consideração a parte operacional da produção da revista: melhor poucos e bem escolhidos padrões do que uma variedade de regrinhas que dificilmente seriam todas seguidas.
Tipografia: eu gosto de começar o projeto escolhendo as fontes. Confesso que já estava de olho na Bau faz um bom tempo, principalmente o peso superbold, apenas esperando uma oportunidade de usá-la. Principalmente para revistas, acho muito importante ter uma boa variedade de pesos, e a Bau os tem na medida. A partir daí, era questão de encontrar outras famílias que se dessem bem com ela. Minha intenção era encontrar uma fonte serifada para os textos com personalidade (mas, novamente, que não chegasse a distrair o leitor), e uma fonte para os títulos que, essa sim, chamasse atenção para si, mas não quebrasse a seriedade do projeto. Depois de horas e horas de pesquisa, as respostas vieram na forma das fontes Pagewalker para o texto e a Neultica para os títulos. Meus testes de mancha me levaram a decidir por colocar o texto em tamanho 9pt e entrelinha 12 pt, e a partir dessa entrelinha todas as medidas do projeto foram derivadas.
Grid: novamente, a ideia era dar uma cara “adulta” para a revista; então apoiá-la num grid de 3 colunas, sempre seguro, era uma boa opção. A template, na verdade, tem 6 colunas, para que fosse fácil localizar o meio da página, mas a intenção é que elas sejam usadas sempre aos pares. Dividi a entrelinha de 12 pt pela metade e decidi que 6 pt seria a medida mínima para tudo, aplicando portanto o grid de 6 pt a ferro e fogo:
Cores: outro segredo para deixar uma revista com cara de gente grande é maneirar na cor. Desde o começo eu decidi que os elementos principais seriam pretos: títulos, retrancas, fios… apenas elementos pontuais como olhos e destaques teriam cor. E mesmo assim, cores sóbrias, como pode-se ver pela palheta de cores abaixo. O fundo da página deve ser sempre branco.
Páginas: a H tem quatro tipos de páginas:
Seções de notas: é o padrão de quase metade da revista. Todas as seções (“Cultura”, “Lifestyle”, etc) têm os chapéus em Pagewalker, num tamanho razoavelmente grande, em preto, e a subseção da página (“Decoração”, “Jardinagem”) em cinza logo em seguida. As notas são em Neultica, sempre do mesmo tamanho.
Colunas: a intenção aqui é dar a maior proeminência possível para o colunista e suas reflexões. Os truques para deixar a página mais bacana são todos tipográficos: título grande em Pagewalker, todo em caixa alta, e destaque na coluna do meio, para dar um pouco de cor à página e quebrar a grande massa de texto.
Matérias: é muito comum que as matérias sejam o lugar de se deixar a imaginação pegar fogo. Brincar com títulos, inserir elementos gráficos… mas não aqui. Novamente, a ideia é fazer algo padronizado que ao mesmo tempo agilize a produção da revista e mantenha a elegância do título. Para se diferenciar das notas, as retrancas são menores, e os títulos maiores. Mas sempre em Neultica, centralizado. Um fio horizontal separa o título do olho, que deve vir sempre logo abaixo. Não se prevê que o título jamais atravesse a dobra da revista, ou seja, vai ficar sempre em uma página. Outro detalhe que diferencia as páginas de matéria das páginas de notas é que aqui as fotos podem ocupar uma página inteira (ou duas), com sangria, o que não acontece nas notas.
Caderno Hard: no meio da revista ficam as matérias de conteúdo mais sexual ou underground. Para diferenciá-las das outras matérias, decidimos emprestar elementos da revista Butt: a página seria toda rosa claro, e nada de cores no texto ou elementos gráficos, apenas preto. As retrancas são diferentes também negativas sobre uma tarja preta arredondada. Os títulos seguem o padrão das matérias, mas a fonte aqui é a Bau no peso superbold.
Inevitavelmente o projeto ainda vai evoluir com o passar das edições – todo designer de revistas, depois de fazer dez ou doze edições, olha para o número 1 e se impressiona em como ainda não tinha entendido a essência da revista. Os ajustes ocorrem tanto na edição de texto como na de arte. Mas acho que esse projeto já começa bem forte, com uma personalidade bem estabelecida. Daqui a um ano a gente avalia o que mudou!
Os comentários estão encerrados.